Viajo em silêncio para uma outra
margem do rio;
Sento-me desolado e contemplo
o meu corpo à deriva, aprecio
o lento processo de decomposição.
Todos os espinhos que
me feriram e as setas que
me atingiram, desvanecem
na fronteira entre o nada e o mar
Minha alma apartou-se do
meu corpo, soltou-se das amarras
do passado.
Riem-se alguns tolos quando
num apíce o meu corpo
afunda sobre um pacato
rio.
Riem os demais, gracejos
e injúrias, falsos amigos, falsos
companheiros, falsos laços de sangue.
Minha alma de outro lado da margem
sente bem o peso no olhar que carrega,
sente o frio que o gelou em horas difíceis.
Sente o fogo ardente das palavras que o consumiram.
Ainda assim ela respira
respira porque sabe que o corpo se desgasta:
que a facilidade do embate do ódio é constante
Ainda assim a minha alma sorri
da malícia tola dos fracos
e cegos seres, que da outra margem
soltam palavras ao acaso.
Não adianta, não pensem, não ousem
tentar destruir o que a essência construio;
Desgastem o corpo, causem olheiras,
e um olhar mórbido, porque minha alma
será sempre a outra margem que nunca irão alcançar
... tolos.
Jean Herbert J&H