Bateu a porta e deixou-me
com a minha última recordação
seus cabelos soltos levaram um segredo.
Era o final de um inverno e o início
de uma estranha e trémula Primavera;
Em frente ao portão jaziam
as últimas folhas, marcas de um
inverno ainda meio presente.
Resolvi soltar-me dos lençois
que ainda me abraçavam
das rimas e dos versos;
dos constantes desencontros,
da vergonha de sorrir,
do cheiro da sua pele em mim.
Almejava um lugar no meio
da multidão que inundava
as ruas.
Levava um rosto de vergonha,
lavado por umas pecadoras
mãos, mãos finas e gentis;
Mãos que apertei sobre meu peito,
Mãos que me acenaram no adeus
Mãos que violentaram o bater da porta.
Segui a vontade
de encontrar brilho num
sorriso alheio;
Voei apressadamente para o exterior;
Se me assustei? Certamente ...
Mas de alma consolada dos tiros
perdidos de uma arma inocente,
que mata lentamente;
Vi nesta minha envolvência
entre o amargo e o doce, uma
associação heterogénea de dois seres vivos
Sustive a respiração por breves momentos.
Reconheci um beijo inocente, um amor puro e cristalino
um dá e nada pede, um pede e nada espera.
Eu que havia perdido um amor,
procurando-me constantemente
achei-me naquele gesto simples;
Naqueles plenos segundos, soube que
amar teria sido palavra inventada
para designar o mais belo gesto
entre a natureza e o Homem.
Amar é mais que perder
é muito mais que ganhar
Amar é a simbiose
entre os que vêem o que mais
ninguém vê.
Um Beija-Flôr ensinou-me
que amar é a capacidade
que o Homem tem de contemplar
a Natureza ...
Jean Herbert J&H